OS KALUNGAS
Há cerca de 400 anos, a descoberta de minas de ouro em Goiás e Minas Gerais fez com que escravos fossem levados para trabalhar na região. Em busca de liberdade dos maus tratos sofridos, os escravos se organizaram em comunidades isoladas e distantes das regiões onde eram aprisionados, levando estes a encontrarem na Chapada dos Veadeiros um refúgio de liberdade, o quilombo que hoje é a comunidade quilombola Kalunga.
A aproximadamente 330 quilômetros de Brasília e 600 quilômetros de Goiânia, o Sítio Histórico e Patrimônio Cultural Kalunga se localiza nos municípios de Cavalcante, Teresina de Goiás e Monte Alegre, no extremo norte do estado de Goiás, se estendendo até o Tocantins em uma área de 272 mil hectares (2720 km²). No território, reconhecido pelo INCRA em 2005, vivem mais de duas mil famílias, somando em média oito mil pessoas e configurando a maior comunidade remanescente de quilombo do Brasil.
Os Kalungas resistiram por 3 séculos utilizando o conhecimento que herdaram para sua sobrevivência, como a utilização do meio no qual estão inseridos para sanar suas necessidades. A comunidade quilombola só teve contato com o mundo exterior nos anos 80, o que faz com que ela, ainda hoje, possua cultura e tradições muito fortes. Utilizam de plantio, caça e criação de animais para subsistência, de modo que sempre focados somente em produzir o essencial, não tendo criado excedentes de produção exagerados ou visão comercial/lucrativa.
Quilombolas
As comunidades quilombolas são grupos étnicos constituídos por descendentes de escravos que, no processo de resistência à escravidão, ocuparam um território comum, características culturais e sociais até os dias de hoje. São caracterizados a partir das relações com a terra, do parentesco, do território, da ancestralidade, das tradições e práticas culturais próprias. As principais características dos quilombos não eram o isolamento e a fuga e sim a resistência e autonomia.
Um dos principais problemas das comunidades quilombolas nos dias de hoje é o não reconhecimento da posse da terra habitada por eles. A titulação da terra é questão fundamental para a existência das comunidades. Já foram reconhecidas pela Fundação dos Palmares, vinculada ao Ministério da Cultura, 3000 comunidades remanescentes de quilombos. Outras 1500 estão recorrendo ao INCRA para obtenção do título, que é direito previsto pela constituição de 1988.
Os Quilombos representam uma grande expressão de luta organizada no Brasil, em resistência ao sistema colonial escravista, atuando sobre diversas questões, em diferentes momentos histórico-culturais.